sábado, 17 de outubro de 2015

Se pudesse decidir, o que faria?

Se estivesse nas nossas mãos a decisão de continuar a atribuir um valor por cada voto a cada partido político, o que faria cada um de nós?

Eu acabaria com isso. Não me parece justo nem democrático que a democracia tenha um custo tão elevado. Ainda mais agora em atravessamos uma crise aguda com cortes cegos na educação, na saúde, nos nossos vencimentos, em que se aumentam impostos, para pagar a crise, considero que é chegada a hora de poupar uns valentes milhões de Euros, que são pagos aos partidos políticos que obtenham mais de 50.000 votos.

Fiz as contas e deixo-as aqui para visualizarem bem os valores:

Valor da subvenção anual a receber por cada partido (2,84 €uros por voto)





     N.º Votos           Valor



PPD/PSD.CDS-PP 1.981.408 5.627.198,72
PS 1.742.002 4.947.285,68
B.E. 549.838 1.561.539,92
PCP-PEV 444.905 1.263.530,20
PPD/PSD 81.054 230.193,36
PAN 74.747 212.281,48
PDR 60.982 173.188,88
PCTP-MRPP 59.835 169.931,40
L/TDA 39.003 0,00
PNR 27.136 0,00
MPT 22.412 0,00
PTP-MAS 20.713 0,00
NC 18.723 0,00
PPM 14.805 0,00
JPP 14.203 0,00
PURP 13.757 0,00
CDS-PP 7.536 0,00
CDS-PP.PPM 3.654 0,00
PPV/CDC 2.660 0,00
PTP 1.748 0,00

Total Anual 14.185.149,64

Nos valores acima, não estão incluídos os votos dos Círculos eleitorais da Europa e fora da Europa. Mas tendo por base o valor acima, ficamos a saber que os próximos quatro anos nos irão custar quase cinquenta e sete milhões de Euros. É muito dinheiro, a democracia está muito cara! E digo mais, a democracia que não nos interessa e que nos empobrece, está demasiado cara!

Assim, a minha proposta seria a de se passar a pagar por cada força política que apresente uma candidatura, um valor a rondar, no máximo, os 100.000 Euros para despesas de campanha eleitoral, valor a ser pago mediante a aparesentação de todos os comprovativos de despesa e devidamente certificados.

Dir-me-ão, Noélia isso é muto perigoso, vão aparecer por aí muitos mais partidos para se candidatarem à subvenção e eu digo-vos que duvido! Mas mesmo que isso venha a acontecer, o dinheiro só será entregue desde que haja despesa devidamente comprovada e para os efeitos previstos, portanto não vejo onde reside o perigo.

Podem também dizer-me pois, mas já viste, vamos estar a dar dinheiro a partidos que podem andar por aí anos e anos, tipo partido fantasma, sem conseguir atingir os tais 50.000 votos que a lei, agora, prevê, pode dizer-se que é dinheiro jogado à rua!... Não concordo, serão outras opiniões, outras idéias e têm tanto direito como os outros de as divulgarem e de terem apoio monetário para o efeito.

Mas..., há que acautelar (já diz o ditado que o "seguro morreu de velho") e para evitar possíveis abusos, criaria a seguinte cláusula: qualquer força política que tendo concorrido a três momentos de sufrágio e não tenha em nenhum deles atingido o patamar dos 50.000 votos, fica excluida de se candidatar e de requerer o pagamento da subvenção. Pois, pois é, estou a ouvir o que me dizem e se mudarem de nome para enganar o sistema? Também ficará prevista essa situação, não podem! Só a partir do momento em que atingirem os 50.000 votos poderão requerer. e recomeça a contagem dos 3 anos, novamente. Ou seja mudem de nome ou não, a regra é a mesma e ficará bem explícita.

Claro, trata-se de um pagamento único, por candiatura e acabam-se com as subvenções anuais.
Para os que não concordam com a minha proposta, devo dizer-vos que com esta medida, entramos no ciclo do "quem tem unhas é que toca guitarra", que é como quem diz quem tiver boas idéias é que terá votos. Sim, vai deixar de haver dinheiro para o porco no espeto, jantares e almoços à fartazana e às custas do erário e outras sem vergonhices que por aí proliferam.

O maior ganho, com esta medida, será o poupar dinheiro do erário público eliminando a subvenção anual, que como viram no quadro acima atinge valores bastante avultados. O dinheiro de todos nós é muito precioso e deve ser bem aplicado. No fundo trata-se, também, de tentar dignificar a política em Portugal. Todos sabemos que é possível fazer uma campanha sem dinheiro do estado. Dos 20 partidos listados acima, apenas 6 fizeram campanha com dinheiro da "subvençãozinha", os restantes 14 não receberam e desses há, agora dois (novos) que irão receber, o PAN e o PDR. Mas os restantes também divulgaram as suas idéias, com menos meios, sem almoços e jantaradas, sem porco no espeto, mas divulgaram. A palavra de ordem é: organizem-se e mostrem o que valem, sem a subvençãozinha!

Nunca foi tão fácil chegar ao eleitor, as redes sociais estão aí ao dispôr de todas as forças políticas. Usem-nas!
 E agora gostava de saber as vosssas opiniões, mas no nosso país onde há tanto "meduço", já sei que posso esperar sentada. Não, não é uma crítica, eu entendo que há que colocar a comida na mesa e viver com alguma tranquilidade e que entrar nestas lides pode trazer perseguições, eu sei e entristece-me que assim seja, mas sei que é assim! Infelizmente, sei...

E para terminar façamos contas: 20 partidos a 100.000 Euros, daria 2.000.000 Euros, o que daria uma poupança de quase 55 milhões de Euros nos quatro anos de legislatura. É uma enorme poupança que dá para fazer melhores investimentos, estou certa. Mais que não seja para não nos apertarem tanto o cinto e o poderem folgar ligeiramente.

Dizem-me que isto é utopia, sou eu a sonhar acordada e que não é possível...

Pois bem, já ouviram falar nas ILC - Iniciativas Legislativas de Cidadãos?


Artigo 1.º da Lei n.º 17/2003, de 4 de junho
Iniciativa legislativa de cidadãos
A presente lei regula os termos e condições em que grupos de cidadãos eleitores exercem odireito de iniciativa legislativa junto da Assembleia da República, nos termos do artigo 167.º da Constituição, bem como a sua participação no procedimento legislativo a que derem origem.

E, se me virem por aí a participar na recolha de assinaturas para uma ILC, não se admirem.

"Se nada fizermos, nada acontece."

Noélia Falcão

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Entre o mau e o péssimo... sinais positivos do eleitorado

No Reino Unido, o The Guardian diz que “Portugal prepara-se para eleger coligação pró-austeridade”. O diário inglês escreve que Portugal pode "fazer história" ao tornar-se no "primeiro país da Europa resgatado financeiramente a reeleger um Governo que impôs duras e impopulares medidas de austeridade".
 
A BBC escreve que a "coligação espera sobreviver à raiva da austeridade” e que alguns analistas questionam-se como é possível que um Governo que implementou medidas tão punitivas para o eleitorado possa estar na iminência de ser reeleito, com a cadeia britânica a mencionar cortes, aumentos de impostos, emigração e desemprego.
 
Nos Estados Unidos, a norte-americana CNBC titula simplesmente “este país prepara-se para apoiar a austeridade”. 

A CNBC diz que Portugal prepara-se para "apoiar mais cortes e aumentos de impostos" a confirmar-se a vitória da coligação nas eleições de domingo, destacando ainda o facto "histórico" de um primeiro-ministro de medidas impopulares poder ser reeleito.  Veja o artigo completo aqui.


                                                                          * * * * *

O que para uns é mau sinal, eu vejo como um sinal positivo, de inteligência deste povo que saiu à rua para mostar um cartão vermelho ao PS, um amarelo à coligação e cartões verdes ao Bloco de Esquerda, ao PAN e aos novos partidos recém chegados à cena política: o Livre/ Tempo de Avançar; o PDR; o JPP; o Nós, Cidadãos!, coligação Agir e o PURP.

Não me venham com teorias disto e daquilo, os eleitores portugueses estão de parabéns e deram um sinal inequívoco de que não querem a continuação da austeridade cega e por isso a coligação não obteve uma maioria e levou cartão amarelo. Por outro lado, entre escolher entre o mau, a coligação da austera austeridade e o  péssimo, o partido com maiores responsabilidades por termos chegado ao estado deplorável a que chegámos, escolheu ficar-se pelo mau e mostrou cartão vermelho ao PS, ao dizer que não o querem como governo. A meu ver, é tão simples quanto isso. Sinais de mudança e de descontentamento podem ser vistos nos resultados do Bloco de Esquerda e do PAN. Tratando-se de um povo conservador, há que fazer leituras destes resultados e informar a imprensa estrangeira que não estamos nada a aprovar a austeridade. Estamos é a evitar que venham os mesmos que nos colocaram nesta camisa de forças. Naturalmente, que deve haver por aí muita gente que não queira ler as coisas desta forma, o que entendo...


Para mim são sinais positivos do eleitorado que me fazem ter mais confiança no futuro. Afinal, estamos alerta e atentos!

Quanto ao Bloco, que de esquerda é, deverá no meu entender, entender-se, com a coligação de direita e aproveitar para negociar alguns dos pontos do seu programa. Por mim, podem começar logo com a exigência da eliminação de portagens na Via do Infante, que foi, certamente, um dos motivos que levou muitos eleitores algarvios a votar para que o João Vasconcelos, o homem anti-portagens, fosse eleito. Provavelmente, nem tudo será tão fácil assim, mas por vezes as pessoas, também, complicam demasiado.

"Et voilá", eis a minha leitura dos resultados e parabéns e obrigada aos eleitores que promoveram esta mudança, que pode parecer um pequeno passo, mas que não foi assim tão pequeno, tal como nos mostram os números: 167.279 votos é a soma do resultado obtido pelos seguintes novos partidos e coligação:

PDR: 60.934
Livre: 38.981
AGIR: 20.705
Nós, Cidadãos: 18.707
JPP: 14.201
PURP: 13.751

E há, ainda, a acrescentar a diferença de votos que o Bloco e o PAN obtiveram das últimas eleições para estas. E digam-me depois que não houve mudança!...

Permitam-me que reforce o agradecimento aos 18.000 eleitores que depositaram o seu voto de confiança no Nós, Cidadãos. Bem hajam!

Pela Cidadania e pelo Bem Comum,

Noélia Falcão



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Votar ou não votar, eis a questão...

Parte 1 _________________________________________________________
Inspirada em William Shakespeare, com a sua famosa expressão "Ser ou não ser,eis a questão" (no original em inglês: To be or not to be, that is the question), a questão que hoje coloco é: votar ou não votar?

Ser ou não ser coerente com o que sentimos e com o que dizemos? Se sim, se somos, então a resposta é VOTAR! Se não somos, então a resposta é não votar. Já pela escolha que fiz, ao escrever uma resposta com letra maiúscula e outra resposta com letra minúscula, estou a dar a entender aquilo que espero que os eleitores façam no próximo domingo, dia 4, ou seja, que VOTEM! Que sejam coerentes, que escolham e participem no que querem para o futuro de todos Nós!


Anda por aí muita contra informação nas redes sociais e por isso importa esclarecer que abster-se de votar, votar em branco ou nulo, não irá mudar, absolutamente, NADA!.

Convém então, ir buscar uma base credível que sustente o que acabei de dizer. Vamos então ver o que diz a CNE – Comissão Nacional de Eleições sobre este assunto:

Os votos em branco, bem como os votos nulos, não sendo votos validamente expressos, não têm influência no apuramento do número de votos obtidos por cada candidatura e na sua conversão em mandatos.
Ainda que o número de votos em branco ou nulos seja maioritário, a eleição é válida e os mandatos apurados tendo em conta os votos validamente expressos nas candidaturas.”
Consultar a fonte aqui
Tudo o que for dito, diferente disto, é MENTIRA! Há por aí muita gente, a quem não agrada a ideia, porque não lhes convém, de cidadãos informados e esclarecidos. Por favor não vão em cantigas!

Parece, também, que há por aí muitos eleitores com receio/ medo de votarem diferente e convém esclarecer e relembrar que o VOTO É SECRETO. E, que quer isso dizer? Que ninguém tem possibilidade de saber em quem votámos. Vamos votar num local sem câmaras de filmar e sem vigilância, isto é não vai estar ninguém a espreitar por cima do nosso ombro para ver onde iremos colocar o nosso X.
Caríssimos eleitores, fiquem descansados e votem em quem a vossa consciência vos indica, sem qualquer tipo de receio de represálias. Quem disser o contrário disto, estará a mentir.

Se por um lado, o voto é secreto, por outro, não é proibido divulgá-lo a quem quiser fazê-lo e por isso declaro, que no próximo dia 4 de outubro, e outra coisa não poderia ser, o meu voto irá para o Nós; Cidadãos!

Pela Cidadania e pelo Bem Comum, apelo a que votem no Nós, Cidadãos! Façam parte da mudança para um Portugal melhor.





Não tenham medo de tentar!

Noélia Falcão

“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que seria nosso pelo simples medo de tentar.”
William Shakespeare

Parte 2 __________________________________________________________
Não posso encerrar este meu artigo, sem aqui deixar um excerto de um discurso que considero brilhante e que fala sobre a alienação e o medo. Espero que este texo ajude à reflexão…


“(…) Depois pensei que vos queria falar da alienação. A alienação é o estado daquele que não é senhor de si e que pode assumir muitas formas: a do alheamento, a da distração, a da sonolência, a do isolamento, a da fuga. Causada umas vezes pelo egoísmo e pela indiferença, outras pela necessidade de anestesiar uma dor insuportável, outras, ainda, pela sensação de impotência, deveríamos ser capazes de a expulsar de dentro dos muros da Academia, porque a nossa razão de existir é em tudo contrária à escravidão do espírito e da vida a que a alienação nos conduz quando não lhe resistimos.
A voz da alienação exprime-se dissimuladamente através de frases que proferimos todos os dias:
«Não é nada comigo» ou «Já bem me bastam os meus problemas» ou «Ah, sim, já ouvi dizer que andam a discutir isso, mas é lá uma coisa deles, ELES é que decidem» ou «Contra isso não posso fazer nada». E serve de justificação para nos escondermos quando deveríamos aparecer, para nos silenciarmos quando deveríamos fazer-nos ouvir, para nos paralisarmos quando deveríamos pôr-nos em movimento, abrindo espaço a que outros decidam por nós, enquanto nós nos retiramos descansada ou sofridamente para o campo da servidão cujo único resultado possível é o de nos tornarmos servos da nossa vida e da vida dos outros, em vez de sermos senhores. Recordei-me, então, de uns versos de Antero de Quental: «Não disputeis, curvado o corpo todo, / As migalhas da mesa do banquete; / Erguei-vos! E tomai lugar à mesa...».
A seguir, pensei que vos queria falar do medo, desse monstro paralisador da criação individual e
coletiva. Do medo do passado ou do medo do futuro, do medo do chefe, do medo de não ser capaz, do medo de decidir, do medo de perder. Do medo objetivo, provocado pela evidência de perigos
reais, e do medo subjetivo, criado pela imaginação mais sombria.
Aos medos há que contrapor a prudência, que não é temerosa mas sensata, que não se assusta mas
vigia, que sabe que ninguém se protege ficando sozinho. Os instigadores do medo, esses hábeis
manipuladores cuja força se alimenta da fraqueza do nosso próprio medo e que contam com os nossos medos objetivos e subjetivos para fazer crescer em nós a desistência, sabem que o medo só cresce na solidão e trabalham consciente e competentemente para nos isolar. E recordei, não conseguindo evitar um sorriso, a reprimenda que Dom Quixote dirige ao seu escudeiro Sancho Pança e que cito a partir da tradução de Aquilino Ribeiro: «Como hás-de ouvir e ver direito se o medo te põe aranheiras nos olhos e nos ouvidos?! Um dos efeitos do medo é turvar os sentidos e fazer com que as coisas pareçam muito outras do que são na realidade.»
Tem razão Dom Quixote: o medo tem de ser banido da Academia com determinação, porque este é um lugar especialmente criado para o Homem se entregar ao exercício da Razão // e a Razão (a par do Conhecimento e da vivência mais plena da Democracia que ele proporciona), a Razão é a nossa melhor arma contra o medo. Mas falar do medo também ajuda a fortalecê-lo - e por isso decidi ser breve neste ponto.
Posteriormente, tive vontade de vos falar de palavras que corremos o risco de perder, por desuso
ou por abuso: «transparência», «participação», «cidadania», «democracia», «justiça», «solidariedade», «civilização», «ética», «confiança», entre muitas outras; e de expressões como «estado de direito», «escrúpulo moral», «serviço público», «estado social». E de outras palavras e expressões que invadiram o discurso público e que, sempre que não as interrogamos seriamente, nos fazem perder o sentido do real, das pessoas e da vida, transformando-os em pura abstração: «desenvolvimento sustentável», «défice estrutural», «emprego sazonal», «desafio societal», «crise», «ajustamento», «reforma», «utente», «problema emergente», «parceiro estratégico», «requalificação»(...)".

(António Branco)

O discurso poderá ser lido na íntegra, aqui.