domingo, 10 de outubro de 2010

"A saúde mental dos portugueses"

Recebi um e-mail, reencaminhado por uma amiga, com um texto que vale a pena ler. Não posso deixar de o publicar aqui, porque não é todos os dias que temos oportunidade de ler algo tão bem escrito, que descreve a realidade de uma forma tão tocante ao ponto de nos emocionar.
Noélia

A saúde mental dos portugueses
Pedro Afonso

in Público, 2010.06.21

"Recentemente ficou a saber-se, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população.

No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes.
 
Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária.

Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem.

É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios. 
 
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque nos últimos quinze anos o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). 

As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. 

Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. 

Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e casa, seja difícil ter tempo para os filhos. 

Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. 

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos.
Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza.
 
Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da segurança social.
 
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público.
 
Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria. 
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
 
Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
 
E hesito prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante estes rostos que me visitam diariamente."

Pedro Afonso
Médico Psiquiatra

5 comentários:

  1. De acordo,mas,para efeitos estatisticos as baixas,podemos dizer,não se "sentem bem " vão ao psicologo e ele dá uma baixa(percebe) tambem contam.Os portugueses não estão malucos,deviam era de se saber quantas dessas baixas foram para funcionarios publicos porque todos conhecemos pessoas que teem uma saude bem melhor do que a nossa e estão sempre de baixa psicologica.

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  2. Caro Anónimo,

    Apelava a que não se desvirtuasse o assunto aqui tratado e cujo artigo da autoria de um Médico Psiquiatra, nada tem a ver com a questão que levanta.
    Quanto aos que estão de baixa terem uma saúde bem melhor do que a nossa, não se esqueça de que, a doença mental é uma questão muito complexa. E cada vez mais.
    Não fomos feitos para viver neste ritmo alucinante, exigente, implacável, intransigente, de cada vez maior competição e em que as pessoas estão cada vez mais sós com as suas angústias, problemas e receios e com cada vez menos tempo para si e para VIVER a vida como deve ser, com calma e tranquilidade.
    Quanto aos funcionários públicos, depois de 30 dias de baixa, têm Juntas Médicas, pelo que me parece pouco provável que estejam sempre de baixa psicológica sem um motivo real para que tal aconteça.

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  3. Cara Noelia,
    garanto-lhe que os funcionarios publicos,alguns, passam a maioria do tempo de baixa com uma saude bem melhor que a nossa.Digo-lhe mais,por vezes,muitas vezes,quase sempre,respondem assim"se tiver que ir fazer isto(x)vou meter baixa por o tempo que for o trabalho.E então,vai me mandar fazer isso ou não?"
    E o chefe responde"não,eu vou mandar outro(um "preto" porque os doutores não podem fazer nada,nem cumprir horario quanto mais trabalhar)".
    Não seja incredula,eu não minto e sabe(acho que devia saber porque é muito comum e eu já trabalhei em varios serviços publico e eram todos iguais)que isso acontece com uma frequencia descomunal!
    È uma vergonha,e depois ainda veem fazer greves com o apoio dos dois partidos verdadeiramente fascistas que temos no país que é o PCP e o B.E. porque ganham pouco.Deviam de ser era despedidos,e mais,isso das juntas medicas é para rir....lol
    Cumprimentos
    Ps:ponha posts este blog tem pouca quantidade mas tem qualidade.

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  4. Obrigado pelo seu comentário. Não duvido que sabe do que fala.
    Sou funcionária da Administração Pública e, infelizmente, por vezes tenho que faltar! E daria tudo para não ter que faltar. Ou sou eu que estou doente, ou algum dos meus três filhos. Não gosto de faltar e muito menos de estar doente... Mas isto sou eu e cada um sabe de si.
    Mas o artigo era sobre a saúde mental dos Portugueses e acredito que ande muita gente a trabalhar porque as "muletas" antidepressivos e ansiolíticos o permitem.
    Quanto à sua sugestão, é preciso tempo e inspiração... que nem sempre abundam.
    Cumprimentos,
    Noélia

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  5. Os funcionários públicos (da base da pirâmide)estão sempre na berlinda.
    Deixo aqui um texto retirado da página do Facebook de "Farpas Actualidade" (cada um que conclua o que bem entender):


    "Meus amigos:

    Trabalho no privado e ganho 400€ na folha de ordenado e por "baixo da
    mesa" recebo da Empresa onde trabalho mais 1200€ em papel moeda.
    Tenho direito a automóvel da Empresa de alta cilindrada e envelopes
    mensais recheados com 300 € para gasóleo.

    Tenho ainda direito a almoço completo no bar da Empresa com grande
    variedade e qualidade pagando apenas uma senha no montante de 1 € por
    dia.

    Quando vou à Caixa de Previdência, marcar uma consulta estou isento de
    taxa moderadora, porque na minha folha de ordenado apenas aparecem os
    400€.
    Esta é a realidade de milhares de trabalhadores portugueses!.

    A minha esposa que tirou um curso superior, trabalha na função pública
    com horário oficial das 09 às 17h. Nunca consegue sair antes as 19:30
    horas , sem ganhar um cêntimo que seja, dado que do quadro de 6
    funcionários 3 foram aposentados e não foi colocado mais nenhum!.
    Ganha 800 €uros, já com subsídio de refeição incluído, desconta
    mensalmente 150€ de I.R.S; 50€ para a Caixa Geral de Aposentações, 25
    € para a ADSE , 10€ para uma verba que se destina ao pagamento futuro
    do funeral (comum a todos os funcionários públicos), e outros mais
    descontos que não me lembro.

    Feitos os descontos fica com 565€ “limpos”, dos quais ainda retira 58
    € mensais para o passe e gasta cerca de 5€ diários para almoçar de pé
    ao balcão de um café .

    Trabalha num Edifício público degradado, a manusear pastas de
    documentos cheias de pó onde circulam baratas ratos e outras pragas, e
    com computadores e sistemas informáticos do século passado, sempre a
    encravar. Atende dezenas de cidadãos por dia portadores das mais
    diversas doenças infecto – contagiosas e tem a seu cargo assuntos de
    muita responsabilidade.

    Há dois anos que o Sócrates lhe congelou o ordenado e não preenche o
    quadro de pessoal, no entanto, os inspectores do serviço, aparecem a
    cada passo em cena, de forma prepotente a dizer que o trabalho devia
    estar mais em dia !.

    Quando a minha esposa vai à Caixa de Previdência marcar uma consulta
    paga taxa moderadora .
    Se for a um médico da ADSE de descontos obrigatórios, paga a
    totalidade da consulta , e largos meses depois, recebe uma pequena
    percentagem do que pagou.
    Todos os dias no serviço “ouve bocas” dos utentes contra a função
    pública, que imaginam ser um “mar de rosas”.

    E vocês neste cenário socratista, gostariam de ser funcionários
    públicos?. Eles é que são os parvos que pagam os impostos na
    totalidade e sustentam o país!.

    É claro que eu com o que ganho por fora, comprei um seguro de saúde a
    uma Companhia de Seguros, e vou aos médicos que quero!.
    Sou um “coitadinho” do privado que só ganho oficialmente 400€, tinha
    direito a isenção de taxa moderadora, mas mesmo assim não estava para
    esperar 6 anos por uma consulta, que com a saúde não se brinca! .

    Quando a minha esposa chega a casa vem exausta de um trabalho, que se
    fosse num privado, aparecia o IDICT e a ASAE e encerravam de imediato
    a porta por falta de condições!.

    Quando o Sócrates ataca a função pública, é apenas música para
    analfabetos que apenas possuem orelhas!.


    EU É QUE NÃO SOU PARVO- ( NESTE MOMENTO APONTO O DEDO À CABEÇA)"

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